terça-feira, 11 de novembro de 2014

Morfológico e Sintático

Percurso de aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil: Morfológico e Sintático
“Uma palavra isolada ainda não expressa um juízo completo, uma ideia completa.” (Machado, 1994)  Mas a frase não só designa algum objeto ou fenómeno, mas também um determinado pensamento ou acontecimento. Sendo assim, a frase ou a oração são a unidade fundamental da comunicação.
“O carácter particular da linguagem que o adulto dirige à criança fornece indícios que lhe permitem progressivamente compreender o discurso de outrem.” (Machado, 1994)   A criança compreende as palavras mais simples e mais repetidas ao longo da sua vida como comer, passeio, dormir, bem como as que designam objetos familiares como a chucha, biberão, ursinho. “A criança constrói a sua linguagem a partir daquilo que ouve.” (Machado, 1994)  


MORFOLÓGICO
A morfologia é a disciplina da linguística que estuda a estrutura interna e os processos morfológicos de formação de palavras. Neste sentido o seu objeto específico é o conhecimento das palavras, dos seus elementos constituintes, da sua estrutura interna e das relações entre elas.
“As palavras isoladas com as quais se inicia o desenvolvimento da linguagem da criança, são na realidade <orações de uma só palavra>, que estão ligadas a uma ação real.” (Machado, 1994)  Sendo assim, a criança ao proferir a palavra <boneca> poderá estar a dizer <dá-me a boneca> ou <toma a boneca>.


“A criança não é capaz de produzir um enunciado da dimensão de uma frase. Através da entoação, da mimica e do gesto, a criança tenta tornar o seu enunciado explícito.” (Machado, 1994) Sendo assim, os meios de comunicação não linguísticos, são meios que a criança pode utilizar para poder expressar o que ainda não consegue transmitir através da fala. Com isto podemos através da simples palavra <dói-dói>, acompanhada de informação não linguística, subentender a mensagem da criança que poderá querer dizer <olha, estou ferido na ponta do dedo>, ou <olha o dói-dói, isto é, a marca vermelha que eu tenho na ponta do dedo>, ou ainda, <eu bato nesta porta que m fez um dói-dói há bocadinho, ela é a culpada de eu ter um dói-dói>. “dói-dói pode ser uma frase, uma palavra, pode qualificar um objeto, ou até lançar um apelo ao adulto com recurso à ficção.” (Machado, 1994)

“Se a palavra isolada designa um objeto e o generaliza, a frase é a expressão de um pensamento, de um juízo determinado.” (Machado, 1994) Sendo assim, a frase ou a oração são o resultado da associação de palavras isoladas.
“Certas palavras são apenas elementos de um grupo de palavras mais complexo.” (Machado, 1994) Isto quer dizer que existem palavras que necessitam de outras palavras que as complementem, pois por si só não tem significado. Como por exemplo.
·      Amar – exige o que responderia “a quem?”
·      Comprar – evocaria o que responderia “o quê?”
A palavra é a unidade lexical máxima da morfologia, possui som e significado e tem como constituintes e tema e o (s) sufixo (s) de flexão.
Todas as palavras são formadas por morfemas, estes são as menores unidades linguísticas que têm significado próprio.
As categorias de palavras estudadas pela morfologia são: advérbio, adjetivo, nome e verbo.
O processo morfológico é uma operação que consiste na associação de constituintes morfológicos (morfemas), tendo em conta as suas propriedades. Permitindo a formação de palavras simples (formada por um único constituinte morfológico, radical, pelo constituinte temático e pelo sufixo de flexão) e complexas (formada pelo constituinte temático, pelo sufixo de flexão e por mais de um constituinte morfológico, podendo ser formada por derivação ou por composição.
As palavras organizam-se em unidades de significado mais amplas e de acordo com regras específicas. As regras de organização das palavras em frases fazem parte do conhecimento sintático que é apreendido pela criança durante toda a infância.
À medida que o conhecimento lexical da criança aumenta, os enunciados que produz vão ganhando a forma de frases que obedecem às regras da língua em que a criança vive e convive.

A sintaxe é a combinação das palavras na frase, ou seja, é a necessidade que a criança encontra de organizar o seu discurso numa frase para que a sua mensagem seja entendido pelos outros.
Com a passagem da palavra para a oração surge um novo principio de organização da linguagem e da fala, denomina-se principio sintagmático. “É sabido que as orações, tanto simples como complexas, não aparecem repentinamente na criança, mas formam-se através de um processo de prolongado desenvolvimento.” (Machado, 1994)
As palavras que entram na oração formam discursos breves, que são nada menos nem nada mais que formulação de ideias, de acontecimentos ou juízos. “...nos casos mais simples, limitam-se apenas ao sujeito e ao predicado (a casa arde). Nos casos mais complexos , incluem sujeito, o predicado e o complemento (a menina toma chá).” (Machado, 1994). Sendo assim, são formadas orações que tem capacidade para expressar qualquer ideia ou pensamento.
“As estruturas sintáticas desempenham uma importante função na memória, porque as sequencias de palavras recordam-se melhor dentro de uma estrutura do que em forma de lista.” (Machado, 1994)
Entre os 18 e os 20 meses “....a criança começa  aproximar duas unidades ou dois signos que se apresentam muitas vezes soba  forma de unidades de duas sílabas: CVCV + CVCV (consoantes vogais)...” (Machado, 1994) As crianças usam estas unidades de sons para transmitir mensagens como <popó papá (o carro do pai)> ou <pota mamã (mãe abre a porta)
“A técnica sintática mias utilizada pela criança é a sucessão: popó papá pota mamá, ó-ó bebé.” (Machado, 1994) Nem sempre a ordem de ocorrência das palavras, não nos dá a certeza de que enunciada a criança gostaria de passar para o adulto. Por exemplo: pota mamá ou mamá pota, podem significar, mãe, batem a à porta; mãe, fecha  aporta; a mãe abriu a porta; mãe abriram a porta; mãe, deixa-me abrir a porta.
Segundo Angel López Garcia, o estilo telegráfico  conduz a algumas ambiguidades como mamá sapato, pois pode significar mamá põe-me o sapato, mamá tem um spaato, este é o sapato da mamá, quero que a mamá me dê o sapato. “O estilo telegráfico é corrente nas produções das crianças. Dura mais ou menos tempo conforme as crianças e a atitude dos adultos que podem ou não encorajar. No entanto, ele não intervém nas estratégias de compreensão. A maior parte das investigações mostra que a criança compreende melhor o enunciado gramaticalmente correto do que o mesmo em estilo telegráfico.” (Machado, 1994) Nesta fase, as crianças usam estruturas frásicas embrionárias, não existindo artigos, preposições, verbos auxiliares, mas impera a ordem sequencial das palavras na frase. À medida que o desenvolvimento se processa, a criança começa a introduzir marcas flexionais no discurso e a respeitar as regras de concordância. Surge o aparecimento de marcas flexionais de género e número para as categorias nominais e por desinências verbais que marcam uma pessoa, número, tempo e modo.
“A criança que começa a falar ignora as dimensões e o nome das unidades linguísticas que utiliza, não sabe se o que importa no enunciado é a ordem do léxico ou a ordem dos elementos sintáticos. O que importa para criança è produzir um enunciado que lhe permite fazer-se compreender.” (Machado, 1994). No inicio da linguagem a criança, não entende se o discurso é correto ou não, nem tão pouco isso é o mais importante para ela, uma vez que o seu principal objetivo nesta fase inicial é ser compreendida por todos os que a rodeiam.

Segundo Ángel López Garcia , existem quatro etapas na aquisição da sintaxe por parte da criança. “num primeiro momento, a criança usa holófrases, isto é, palavras que correspondem a uma oração e que tem um valor dependente do contexto. E explica que os primeiros enunciados das crianças dão sempre expressões de uma só palavra: mamá, cama, água.” (Machado, 1994) Estas palavras-frases com que se inicia a linguagem são sempre substantivos, isto é, pertencem justamente à classe de elementos que, por poder aparecer em qualquer posição da estrutura sintática.
            Por volta dos 18 meses ocorre “A segunda etapa do desenvolvimento sintático caracteriza-se pela aparição de estruturas duais do tipo mamá dá, mamá ali, popó anda...” (Machado, 1994). Nesta etapa as orações apresentam-se com um substantivo e numa palavra funcional.

Aos 24 meses surge “A terceira etapa do desenvolvimento sintático caracteriza-se por ulteriores subdivisões da classe das palavras funcionais.... Esta subclasse funcional dá lugar a uma tripartidação “adjetivos/ possessivos/ subclasse funcional.” (Machado, 1994).

Por volta dos 4/ 5 anos dá-se “A quarta etapa caracteriza-se pela aquisição da sintaxe básica.” (Machado, 1994)

Após a criança adquirir a sintaxe básica, começa a desenvolver “A consciência sintática é a capacidade para raciocinar sobre a sintaxe dos enunciados verbais e controlar, de forma deliberada, o uso das regras da gramática. Esta competência traduz-se na possibilidade de realizar juízos sobre a gramaticalidade de um enunciado, de o corrigir, caso esteja incorreto e de explicitar as regras subjacentes a essa retificação” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63) Os juízos que as crianças fazem sobre determinados enunciados, centram-se sobretudo no sentido ou na ausência dele. “Assim muitas crianças aos seis anos são capazes de indicar que o enunciado “o muro saltou o cavalo” está incorreto...” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63) embora se a frase for “o bebé faz barulho antes que adormecer” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63)  leva  acriança de seis anos ter muito dificuldade e avaliar o erro. “Mesmo com nove, anos nem todas as crianças são capazes de indicar que se trata de uma frase gramaticalmente incorreta.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63)
“A consciência sintática pode facilitar algumas dimensões das operações de leitura...” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64) “Se as crianças até aos 6/ 7 anos têm grandes dificuldades em efetuar juízos de gramaticais, a partir dos 7/ 8 anos, quando começam a revelar algum domínio na leitura, dão um salto significativo na eficácia que apresentam neste tipo de tarefas.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64)
“... a consciência sintática facilita os processos de compreensão, nomeadamente no que diz respeito à integração das informações lidas num texto, já que  a capacidade infantil para refletir sobre a dimensão gramática dos enunciados irá possibilitar-lhes a monotorização do sentido do que está a ser lido.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64)
Para uma criança poder desenvolver a base básica da sintaxe, bem como a consciência sintática e morfológico, os educadores tem um papel fundamental nessa aprendizagem, estimulando e orientando as crianças para uma vasta escolha de ambientes favoráveis ao desenvolvimento destas competências. Logo “É no clima de comunicação criado pelo educador que a criança irá dominando a linguagem, alargando o seu vocabulário, construindo frases mais corretas e complexas., adquirindo uma maior domínio da expressão e da comunicação que lhe permitem formas mais elaboradas de representação O quotidiano da educação pré-escolar permitirá, por exemplo, que as crianças vão utilizando adequadamente frases simples de tipos diversos: afirmativa, negativa, interrogativa, exclamativa, bem como as concordâncias de género, número, pessoa e lugar.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 65)
 “Procurar com as crianças informações em livros, cujo texto o educador vai lendo e comentando de forma a que as crianças interpretem os sentidos, retirem ideias principais e reconstruam informação, e também (...), consultar um dicionário.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 65)


Bibliografia
Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-infância, textos de apoio para educadores de infância. (Editorial do Ministério de Educação). Lisboa: Ministério da Educação.

Machado, J. B., (1994), Letras & letras, O desenvolvimento da Sintaxe, Ensaio, Acedido a Dezembro 2, 2014, em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio33.htm


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