terça-feira, 11 de novembro de 2014

Consciência (meta)linguística: níveis de conhecimento linguístico

Desenvolvimento da Consciência (Meta)linguística


Consciência (Meta)linguística:
Compreender que  a língua não é apenas um instrumento de comunicação, mas que também se assume como objecto de estudo, associada à gramática. Compreender que a linguagem se torna numa estrutura com formas e regras.
A criança vai tomando noção da própria linguagem, o mesmo se verifica quando por exemplo, a criança se corrige. ( Vaz, Tarsis. Código e Metalnguagem - Gramática - Vídeo da UC)

… a aprendizagem da leitura e escrita em sistemas alfabéticos pressupõe uma reflexão deliberada da fala que, utilizada de forma natural e eficiente pela criança nas situações comunicativas do dia a dia, deve tornar-se objeto de sua atenção consciente, a fim de permitir o desenvolvimento do que se costuma designar como conhecimento ou consciência metalingüística. A consciência metalingüística é um termo genérico que envolve diferentes tipos de habilidades, tais como: segmentar e manipular a fala em suas diversas unidades (palavras, sílabas, fonemas); separar as palavras de seus referentes (ou seja, estabelecer diferenças entre significados e significantes); perceber semelhanças sonoras entre palavras; julgar a coerência semântica e sintática de enunciados” (Sylvia Domingos Barrera e Maria Regina Maluf, 2003, p.492).




Dos 9 aos 12 meses,  surge a competência linguística com o início da capacidade intuitiva.
Entre os 17/18 e os 29 meses, a criança começa a aperceber-se que a linguagem aparece ligada ao contexto em que se utiliza.
Dos 3 aos 4 anos, a criança  vai fazendo as  suas próprias  correções e reformulações.
Dos 4 aos 6 anos,  a sua consciência linguística atinge capacidade para pensar que a língua pode ser alvo de reflexão, já toma consciência da sua identidade como locutor, permitindo correções.
Aos 6 anos, a criança já consegue refletir de forma consciente sobre as regras da gramática da sua língua. Atinge a capacidade explicativa, a metalinguagem.

Código é a ordenação lógica de símbolos que são do conhecimento de um determinado grupo. A pintura ( textura, cor..)  tem os seus códigos, tal como a música ( melodia, o ritmo…),  as roupas (símbolos socias).
O nosso maior código é a nossa língua e se não obedecer a uma ordem não há entendimento. ( Vaz, Tarsis. Código e Metalnguagem - Gramática - Vídeo da UC).

Metalinguagem é ter o código a serviço do próprio código. Exemplos de metalinguagem:
  • Usar a língua para falar da própria língua é metalinguagem.
  • Autobiografia é metalinguagem.
  • O dicionário é metalinguagem , são palavras que definem palavras.( Vaz, Tarsis. Código e Metalnguagem - Gramática - Vídeo da UC).

Compreender a estrutura das unidades linguísticas, o seu funcionamento, a ponto de
poder utilizar essa compreensão no âmbito da participação no jogo que vive das características dessas unidades, constitui uma via para a criança construir de forma aciva um conhecimento metalinguístico. (Barbeiro, Luís in O jogo no ensino-aprendizagem da língua, pág. 54).

Consciência fonológica
"Para Sim-Sim (2006) a consciência fonológica é uma habilidade metalinguística que permite às crianças ter consciência de que as palavras são constituídas por diversos sons e que podem ser divididas em unidades menores, os fonemas. Já Nascimento e Knobel (2009) entendem a consciência fonológica como uma capacidade de identificar, isolar, manipular, combinar e segmentar deliberadamente os segmentos fonológicos da língua." (Ferraz, p.3)

Esta consciência é vista como um pré-requisito para a aprendizagem da leitura e da escrita. "Esta capacidade de conscientemente identificar, isolar, manipular, combinar e segmentar os segmentos sonoros da fala é vista como uma mais-valia, até para as crianças com dificuldades específicas de aprendizagem. O desenvolvimento da consciência fonológica é gradual e depende das experiências linguísticas, do desenvolvimento cognitivo, das características específicas de cada criança e da exposição formal ao sistema alfabético." (Ferraz, p.1) Estudos provam que crianças com problemas na linguagem e na fala podem melhorar estas dificuldades através do treino desta consciência no pré-escolar.

1º e 2º mês de vida:
- evolução da consciência fonológica. A criança começa a dinstiguir os sons com base no fonema.

30º mês de vida:
- a criança consegue detetar eventuais erros na produção do seu enunciado ou no dos outros interlocutores.

36º mês de vida:
- distingue os sons da sua língua materna

3/4 anos de idade:
- apresenta uma sensibilidade às regras fonológicas da sua língua e reconhece as primeiras rimas e aliterações 

Bibliografia:

  • Ferraz, Inês et al. O Treino da Consciência Fonológica em Crianças com Problemas da Linguagem e da Fala. Disponível em <http://www.ldworldwide.org/o-treino-da-consciencia-fonologica-em-criancas-com-problemas-da-linguagem-e-da-fala> acedido em 20/12/2014

Lexical e Semântico

Percurso de aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil:

Lexical e Semântico

Desenvolvimento linguístico:
Na aquisição da linguagem é importante o ambiente em que a criança se encontra, imitando esta o que ouve no meio que a envolve.
Na aquisição da linguagem, a criança tem a tendência a generalizar o uso dos verbos regulares para os irregulares. Exemplo: Verbo saber, em que, muitas vezes, a criança pronuncia “eu sabo”.

Desenvolvimento Lexical e Semântico:
Campo Lexical: Conjunto de todas as palavras que fazem parte de uma determinada língua.
Campo Semântico: Diz respeito ao significado das palavras.
Estes dois surgem juntos, dado que não faz sentido falar das palavras de forma isolada do seu significado.

 Sem dúvida que as palavras são a base da comunicação, não sendo possível sem elas realizar a linguagem.
Digamos, que no caminho da linguagem, “angariar” uma palavra implica o saber do significado da mesma e o seu uso repetido. Entretanto, para aceder a esse significado a criança depende do contexto em que a mesma é produzida. Deste modo, o léxico que a criança vai adquirindo está também estreitamente ligado ao contexto, o tipo de palavras que a criança ouve serão aquelas que mais tarde poderá vir a produzir.
A criança entende mais do que produz, dado que ela tem um léxico passivo mais vasto do que o seu léxico expressivo. Apesar disto, conhecer uma palavra, abarca conhecer e perceber o seu significado.
Assim, o desenvolvimento lexical acompanha não só as (novas) palavras como também estabelece ligação entre elas.
O desenvolvimento lexical vai ocorrendo de forma muito rápida durante o período que antecede a entrada na escola.
Lexical
As primeiras palavras da criança começam por ser pronunciadas  tendo em conta o meio que a rodeia e estão ligadas a  objetos que satisfazem as suas necessidades e desejos, ou a pessoas e animais do seu dia-a-dia onde a afetividade é um fator essencial. Começam então por ser formadas por duas sílabas idênticas, formadas por uma consoante e uma vogal.
À medida que a criança vai adquirindo novas palavras, quando a mesma percebe a diferença entre objetos e situações, o sentido integral das primeiras vai diminuindo.
Para o desenrolar deste processo e a criança seja capaz de associar uma sequência sonora a determinados objetos, é necessário que estejam reunidas as seguintes condições:
  • Distinguir o objeto do contexto;
  • Ter a noção de que um item léxico designa o mesmo objeto,
  • Distinguir o objeto do contexto;
  • Ter a noção de que um item léxico designa o mesmo objeto, independentemente dos lugares, posições e/ou diferentes;
  • Verificar que os atributos são independentes dos contextos  a que se aplicam e vice-versa;
  • Organizar mentalmente a relação dos objetos no espaço, registar as suas particularidades sensitivas, sentindo-as como coisas tocadas, vistas, ouvidas e saboreadas.

Desenvolvimento Lexical
 
Pode-se dizer que as palavras são a natureza de uma língua. Isto porque, sem palavras seria impossível qualquer comunicação verbal, além do que para se ser eloquente da língua não seja satisfatório conhecer todas as palavras que fazem parte do léxico dessa língua.
O desenvolvimento lexical começa muito cedo, quando a criança é capaz de atribuir significado a uma palavra que ouve frequentemente associada a uma pessoa, uma ação ou um objeto, mas prolonga-se por toda a vida. (Sim, 1946, p.18)
O desenvolvimento lexical está sobretudo ligado à consciência fonológica, dado que quanto maior é o campo lexical mais rapidamente a criança desenvolve a conhecimento fonológico.
O conhecimento lexical aumenta progressivamente à medida que a criança é exposta a novos contextos em que ocorre a mesma palavra.


Entre os 9 e 12 meses:
  • Produção de palavras isoladas (holofrase)
  • Uso de monossílabos ou repetição de sílabas (exemplo: ó-ó para cama ou para dormir, para mãe,  bo para bola, papa para comer ou para identificar um alimento). 
  • As primeiras palavras das crianças estão relacionadas com nomes de pessoas, objetos ou animais do seu dia-a-dia com significado para si. As primeiras palavras, em geral,  são constituídas por duas sílabas, sendo cada uma delas formada por uma consoante e uma vogal.




A  partir dos 18 meses :
  • Grande aumento do vocabulário, a criança produz em média 50 palavras e é capaz de compreender aproximadamente uma centena de palavras, ouvidas frequentemente na sua interação com o adulto.
  • As primeiras palavras compreendidas e produzidas estão associadas a ações específicas marcadas pelo aqui e agora. Ao compreender determinada palavra, a criança  antecipa ou realiza uma ação e a produção de uma palavra é acompanhada por uma determinada ação. A criança consegue atribuir símbolos às palavras que aparecem em contextos diferentes, mas no caso da criança desconhecer a palavra, usualmente utiliza o rótulo lexical que ela conhece, por vezes inventado, mas que expressa da melhor forma o que quer explicar, ou seja, a criança inventa palavras (criatividade lexical);
  • Produção de discurso telegráfico (2 a 3 palavras por frase)


Entre os 24 a 27 meses:
  • A criança aprende um vocabulário de 300 a 700 palavras, já faz frases de 2 ou  3 palavras, utilizando algumas preposições e pronomes.;
  • Fase da diferenciação ( a criança dá nomes a todos os objetos da mesma espécie).

Entre os 24 e os 48 meses:
 
  • Período Pré-operacional de Piaget, em que o desenvolvimento e ampliação da linguagem são caraterísticas muito relevantes. Neste período, a realidade da  criança e o mundo é visto somente pela sua perspetiva, desconhecendo a existência de outros pontos de vista.

3 anos:
    A criança detém um vocabulário muito rico, cerca de 1000 palavras, com uma construção frásica estruturada, já com algumas regras gramaticais, mas ainda com algumas incorreções
4 anos:
  • De acordo com Piaget é o  inicio  do pensamento intuitivo, em que surge na criança a emergência de frase e da sua sintaxe de base;
  • Primeiros tipos de frases: afirmativa, negativa e interrogativa;
  • Pensamento de caratér pré-lógico ( consegue dar resposta a tudo, mas ainda de forma incorreta, não raciona por dedução e reage intuitivamente);
  • Regulação intuitiva em vez de objetiva;
  • Uso de  frases complexas, muito semelhantes às dos adultos, domínio da fala bastante significativo, a memória de que precisa está na memória de longa duração, recorrendo à mesma sempre que necessita;
  • Discurso com muitas repetições de conjunções e advérbios “como” e “e depois”;
  • Se o sentido das palavras, aos 4 anos, ainda permanecer indefinido e  se variar conforme experiências subjectivas, significa que o vocabulário da criança ainda não é perfeito;



5  a 7 anos:
  • O desenvolvimento vocabular na criança desenvolve-se a par do seu desenvolvimento intelectual. Assim, a nível lexical, ao adquirir palavras novas, as suas categorias e os seus significados, a criança inicia um processo dinâmico operatório com a finalidade de as aprender.

    Ehri (1975) refere que, antes dos 7 anos, apesar das crianças já conseguirem produzir e compreender enunciados, " seu conhecimento lexical é implícito e inconsciente". ( Sylvia Domingos Barrera e Maria Regina Maluf, 203, p.493)

Desenvolvimento Semântico

Designamos por conhecimento semântico o conhecimento do significado das palavras, das frases e do discurso e ao processo de apreensão desse conhecimento chamamos desenvolvimento semântico” ( Sim-Sim e outros, 1946, p. 19)

Entre os 9 e os 12 meses:

As primeiras palavras requerem a interação com os adultos, dado que desta forma se verifica uma aprendizagem , assim como através do meio envolvente.


12 meses
  • Compreensão de frases simples, particularmente instruções

18  meses:

  • A criança já é capaz de compreender aproximadamente umas cem palavras, que por norma são ouvidas na interação com o adulto;
  • Cumprimento de ordens simples;


Entre os 2 a 3 anos:
  • Compreensão de centenas de palavras;
  • Grande expansão lexical;
  • Produção de frases;
  • Utilização de pronomes;
  • Utilização de flexões nominais e verbais;
  • Respeito pelas regras básicas de concordância;

4/5  anos: 
  • Conhecimento passivo de cerca de 25 000 palavras;
  • Vocabulário ativo de cerca de 2 500 palavras;
  • Compreensão e produção de muitos tipos de frases simples e complexas.

Até à puberdade: 
  • Domínio das estruturas gramaticais complexas;
  • Enriquecimento lexical.

BIBLIOGRAFIA:

Macias, D. (2002). A aquisição e o desenvolvimento do vocabulário na criança de 4 anos. Estudo de um caso. Bragança: Instituto Politécnico de Bragança.


Lima, R. (2000). Linguagem Infantil: Da Normalidade à Patologia. Braga: Edições APPACOM (pp. 71-102)

Sylvia Domingos Barrera & Maria Regina Maluf (2003). Consciência Metalinguística e Alfabetização Um estudo com criança da primeira Série do Ensino Fundamental - Psicologia: Reflexão e Crítica, pp.491-502

SIM-SIM, I., Silva, A.C., Nunes, C (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância: textos de apoio para educadores de infância. Lisboa: Ministério da Educação


 



Morfológico e Sintático

Percurso de aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil: Morfológico e Sintático
“Uma palavra isolada ainda não expressa um juízo completo, uma ideia completa.” (Machado, 1994)  Mas a frase não só designa algum objeto ou fenómeno, mas também um determinado pensamento ou acontecimento. Sendo assim, a frase ou a oração são a unidade fundamental da comunicação.
“O carácter particular da linguagem que o adulto dirige à criança fornece indícios que lhe permitem progressivamente compreender o discurso de outrem.” (Machado, 1994)   A criança compreende as palavras mais simples e mais repetidas ao longo da sua vida como comer, passeio, dormir, bem como as que designam objetos familiares como a chucha, biberão, ursinho. “A criança constrói a sua linguagem a partir daquilo que ouve.” (Machado, 1994)  


MORFOLÓGICO
A morfologia é a disciplina da linguística que estuda a estrutura interna e os processos morfológicos de formação de palavras. Neste sentido o seu objeto específico é o conhecimento das palavras, dos seus elementos constituintes, da sua estrutura interna e das relações entre elas.
“As palavras isoladas com as quais se inicia o desenvolvimento da linguagem da criança, são na realidade <orações de uma só palavra>, que estão ligadas a uma ação real.” (Machado, 1994)  Sendo assim, a criança ao proferir a palavra <boneca> poderá estar a dizer <dá-me a boneca> ou <toma a boneca>.


“A criança não é capaz de produzir um enunciado da dimensão de uma frase. Através da entoação, da mimica e do gesto, a criança tenta tornar o seu enunciado explícito.” (Machado, 1994) Sendo assim, os meios de comunicação não linguísticos, são meios que a criança pode utilizar para poder expressar o que ainda não consegue transmitir através da fala. Com isto podemos através da simples palavra <dói-dói>, acompanhada de informação não linguística, subentender a mensagem da criança que poderá querer dizer <olha, estou ferido na ponta do dedo>, ou <olha o dói-dói, isto é, a marca vermelha que eu tenho na ponta do dedo>, ou ainda, <eu bato nesta porta que m fez um dói-dói há bocadinho, ela é a culpada de eu ter um dói-dói>. “dói-dói pode ser uma frase, uma palavra, pode qualificar um objeto, ou até lançar um apelo ao adulto com recurso à ficção.” (Machado, 1994)

“Se a palavra isolada designa um objeto e o generaliza, a frase é a expressão de um pensamento, de um juízo determinado.” (Machado, 1994) Sendo assim, a frase ou a oração são o resultado da associação de palavras isoladas.
“Certas palavras são apenas elementos de um grupo de palavras mais complexo.” (Machado, 1994) Isto quer dizer que existem palavras que necessitam de outras palavras que as complementem, pois por si só não tem significado. Como por exemplo.
·      Amar – exige o que responderia “a quem?”
·      Comprar – evocaria o que responderia “o quê?”
A palavra é a unidade lexical máxima da morfologia, possui som e significado e tem como constituintes e tema e o (s) sufixo (s) de flexão.
Todas as palavras são formadas por morfemas, estes são as menores unidades linguísticas que têm significado próprio.
As categorias de palavras estudadas pela morfologia são: advérbio, adjetivo, nome e verbo.
O processo morfológico é uma operação que consiste na associação de constituintes morfológicos (morfemas), tendo em conta as suas propriedades. Permitindo a formação de palavras simples (formada por um único constituinte morfológico, radical, pelo constituinte temático e pelo sufixo de flexão) e complexas (formada pelo constituinte temático, pelo sufixo de flexão e por mais de um constituinte morfológico, podendo ser formada por derivação ou por composição.
As palavras organizam-se em unidades de significado mais amplas e de acordo com regras específicas. As regras de organização das palavras em frases fazem parte do conhecimento sintático que é apreendido pela criança durante toda a infância.
À medida que o conhecimento lexical da criança aumenta, os enunciados que produz vão ganhando a forma de frases que obedecem às regras da língua em que a criança vive e convive.

A sintaxe é a combinação das palavras na frase, ou seja, é a necessidade que a criança encontra de organizar o seu discurso numa frase para que a sua mensagem seja entendido pelos outros.
Com a passagem da palavra para a oração surge um novo principio de organização da linguagem e da fala, denomina-se principio sintagmático. “É sabido que as orações, tanto simples como complexas, não aparecem repentinamente na criança, mas formam-se através de um processo de prolongado desenvolvimento.” (Machado, 1994)
As palavras que entram na oração formam discursos breves, que são nada menos nem nada mais que formulação de ideias, de acontecimentos ou juízos. “...nos casos mais simples, limitam-se apenas ao sujeito e ao predicado (a casa arde). Nos casos mais complexos , incluem sujeito, o predicado e o complemento (a menina toma chá).” (Machado, 1994). Sendo assim, são formadas orações que tem capacidade para expressar qualquer ideia ou pensamento.
“As estruturas sintáticas desempenham uma importante função na memória, porque as sequencias de palavras recordam-se melhor dentro de uma estrutura do que em forma de lista.” (Machado, 1994)
Entre os 18 e os 20 meses “....a criança começa  aproximar duas unidades ou dois signos que se apresentam muitas vezes soba  forma de unidades de duas sílabas: CVCV + CVCV (consoantes vogais)...” (Machado, 1994) As crianças usam estas unidades de sons para transmitir mensagens como <popó papá (o carro do pai)> ou <pota mamã (mãe abre a porta)
“A técnica sintática mias utilizada pela criança é a sucessão: popó papá pota mamá, ó-ó bebé.” (Machado, 1994) Nem sempre a ordem de ocorrência das palavras, não nos dá a certeza de que enunciada a criança gostaria de passar para o adulto. Por exemplo: pota mamá ou mamá pota, podem significar, mãe, batem a à porta; mãe, fecha  aporta; a mãe abriu a porta; mãe abriram a porta; mãe, deixa-me abrir a porta.
Segundo Angel López Garcia, o estilo telegráfico  conduz a algumas ambiguidades como mamá sapato, pois pode significar mamá põe-me o sapato, mamá tem um spaato, este é o sapato da mamá, quero que a mamá me dê o sapato. “O estilo telegráfico é corrente nas produções das crianças. Dura mais ou menos tempo conforme as crianças e a atitude dos adultos que podem ou não encorajar. No entanto, ele não intervém nas estratégias de compreensão. A maior parte das investigações mostra que a criança compreende melhor o enunciado gramaticalmente correto do que o mesmo em estilo telegráfico.” (Machado, 1994) Nesta fase, as crianças usam estruturas frásicas embrionárias, não existindo artigos, preposições, verbos auxiliares, mas impera a ordem sequencial das palavras na frase. À medida que o desenvolvimento se processa, a criança começa a introduzir marcas flexionais no discurso e a respeitar as regras de concordância. Surge o aparecimento de marcas flexionais de género e número para as categorias nominais e por desinências verbais que marcam uma pessoa, número, tempo e modo.
“A criança que começa a falar ignora as dimensões e o nome das unidades linguísticas que utiliza, não sabe se o que importa no enunciado é a ordem do léxico ou a ordem dos elementos sintáticos. O que importa para criança è produzir um enunciado que lhe permite fazer-se compreender.” (Machado, 1994). No inicio da linguagem a criança, não entende se o discurso é correto ou não, nem tão pouco isso é o mais importante para ela, uma vez que o seu principal objetivo nesta fase inicial é ser compreendida por todos os que a rodeiam.

Segundo Ángel López Garcia , existem quatro etapas na aquisição da sintaxe por parte da criança. “num primeiro momento, a criança usa holófrases, isto é, palavras que correspondem a uma oração e que tem um valor dependente do contexto. E explica que os primeiros enunciados das crianças dão sempre expressões de uma só palavra: mamá, cama, água.” (Machado, 1994) Estas palavras-frases com que se inicia a linguagem são sempre substantivos, isto é, pertencem justamente à classe de elementos que, por poder aparecer em qualquer posição da estrutura sintática.
            Por volta dos 18 meses ocorre “A segunda etapa do desenvolvimento sintático caracteriza-se pela aparição de estruturas duais do tipo mamá dá, mamá ali, popó anda...” (Machado, 1994). Nesta etapa as orações apresentam-se com um substantivo e numa palavra funcional.

Aos 24 meses surge “A terceira etapa do desenvolvimento sintático caracteriza-se por ulteriores subdivisões da classe das palavras funcionais.... Esta subclasse funcional dá lugar a uma tripartidação “adjetivos/ possessivos/ subclasse funcional.” (Machado, 1994).

Por volta dos 4/ 5 anos dá-se “A quarta etapa caracteriza-se pela aquisição da sintaxe básica.” (Machado, 1994)

Após a criança adquirir a sintaxe básica, começa a desenvolver “A consciência sintática é a capacidade para raciocinar sobre a sintaxe dos enunciados verbais e controlar, de forma deliberada, o uso das regras da gramática. Esta competência traduz-se na possibilidade de realizar juízos sobre a gramaticalidade de um enunciado, de o corrigir, caso esteja incorreto e de explicitar as regras subjacentes a essa retificação” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63) Os juízos que as crianças fazem sobre determinados enunciados, centram-se sobretudo no sentido ou na ausência dele. “Assim muitas crianças aos seis anos são capazes de indicar que o enunciado “o muro saltou o cavalo” está incorreto...” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63) embora se a frase for “o bebé faz barulho antes que adormecer” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63)  leva  acriança de seis anos ter muito dificuldade e avaliar o erro. “Mesmo com nove, anos nem todas as crianças são capazes de indicar que se trata de uma frase gramaticalmente incorreta.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 63)
“A consciência sintática pode facilitar algumas dimensões das operações de leitura...” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64) “Se as crianças até aos 6/ 7 anos têm grandes dificuldades em efetuar juízos de gramaticais, a partir dos 7/ 8 anos, quando começam a revelar algum domínio na leitura, dão um salto significativo na eficácia que apresentam neste tipo de tarefas.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64)
“... a consciência sintática facilita os processos de compreensão, nomeadamente no que diz respeito à integração das informações lidas num texto, já que  a capacidade infantil para refletir sobre a dimensão gramática dos enunciados irá possibilitar-lhes a monotorização do sentido do que está a ser lido.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 64)
Para uma criança poder desenvolver a base básica da sintaxe, bem como a consciência sintática e morfológico, os educadores tem um papel fundamental nessa aprendizagem, estimulando e orientando as crianças para uma vasta escolha de ambientes favoráveis ao desenvolvimento destas competências. Logo “É no clima de comunicação criado pelo educador que a criança irá dominando a linguagem, alargando o seu vocabulário, construindo frases mais corretas e complexas., adquirindo uma maior domínio da expressão e da comunicação que lhe permitem formas mais elaboradas de representação O quotidiano da educação pré-escolar permitirá, por exemplo, que as crianças vão utilizando adequadamente frases simples de tipos diversos: afirmativa, negativa, interrogativa, exclamativa, bem como as concordâncias de género, número, pessoa e lugar.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 65)
 “Procurar com as crianças informações em livros, cujo texto o educador vai lendo e comentando de forma a que as crianças interpretem os sentidos, retirem ideias principais e reconstruam informação, e também (...), consultar um dicionário.” (Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C.,2008 : 65)


Bibliografia
Sim-Sim, I. & Silva, A. C. & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-infância, textos de apoio para educadores de infância. (Editorial do Ministério de Educação). Lisboa: Ministério da Educação.

Machado, J. B., (1994), Letras & letras, O desenvolvimento da Sintaxe, Ensaio, Acedido a Dezembro 2, 2014, em http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio33.htm