terça-feira, 11 de novembro de 2014

Fonológico e Pragmático

Percurso de aquisição e desenvolvimento linguístico infantil: Fonológico

Fonologia é o campo da Linguística que se baseia no estudo do sistema sonoro de um idioma.
Na fonologia o estudo dos vários sons são organizados dentro de uma língua e classificados em unidades denominadas fonemas que habilitam a distinção dos significados.

Desenvolvimento Fonológico (dos 0 aos 5/6 anos)

  • Percepção
A criança quando nasce já trás com ela a capacidade auditiva. Contudo, para que ela adquira linguagem necessita diferenciar os sons da fala. Esta capacidade embora não seja imediata após o nascimento, é bastante rápido o seu desenvolvimento.

  • Período pré-linguístico:
Nas primeiras semanas de vida a criança já consegue distinguir a voz humana dos outros sons, bem como consegue distinguir a fala de outros estímulos. Neste período de tempo a criança adquire também a capacidade de distinguir a voz materna.
Aos 2 meses a criança já revela também a discriminação de pares mínimos (silábicos), diferenciando o ponto de articulação (/la/ vs /ka/) ou a diferença da sonoridade (/la/ vs /da/).
Entre os 2 e os 4 meses a criança desenvolve a capacidade de distinguir vozes femininas de masculinas; vozes amigáveis de ríspidas e vozes familiares de vozes desconhecidas.

  • Período linguístico:
Neste período a criança produz as suas primeiras palavras, começando assim a ter noção do significado de algumas das palavras em contexto.
Ao longo do segundo ano de vida, o desenvolvimento da capacidade de discriminação será visível no aumento do vocabulário que a criança reconhece. No final do segundo ano de vida a criança reconhece em média quinhentas palavras. Aos três anos o desenvolvimento da discriminação está completo.

  • Produção

As etapas de desenvolvimento da produção são exatamente as mesmas que referimos na percepção: período pré-linguístico (marcado pelo choro e sons vegetativos, pelo palreio e pela lalação) e o período linguístico (marcado pelas primeiras palavras).
Assim sendo, neste ponto iremos abordar mais especificamente a aquisição dos diferentes segmentos e no desenvolvimento da prosódia (entoação, acento e ritmo).

  • Aquisição dos segmentos:
A criança não adquire os segmentos todos de uma só vez, na verdade há sons que a criança adquire mais facilmente e por isso surgem mais cedo nas suas produções. Tal está relacionado com o grau de facilidade / dificuldade articulatória dos sons. Os sons que têm pontos de apoio dos articuladores são adquiridos primeiro face ás que não têm. Na verdade a primeira vogal que a criança pronuncia é a vogal /a/, pois esta caracteriza-se pela abertura do canal vocal. Já a primeira consoante a ser pronunciada é o /p/ por corresponder a um fechamento na zona labial.
Este sistema fonológico elementar vai conhecer sucessivas complexificações que originaram novas oposições. Este sistema pode ser representado por um triângulo que apresenta a base para a aquisição do sistema fonológico.

Contudo, partindo deste triângulo continuamos a verificar uma sucessiva diferenciação em que:
  • á vogal /a/ opõe-se a vogal alta /i/;
  • ás consoantes labiais ou dentais vem juntar-se a oclusiva velar /k/;
  • o sistema de vogais integra a oposição anterior / posterior, com o aparecimento de /u/.
Da evolução do sistema fonológico gerou-se um triangulo duplo de vogais e consoantes:
Apercebemo-nos que a aquisição de um determinado fonema depende do domínio anterior. A esta relação Jakobson deu o nome de “lei da solidariedade”.

  • Desenvolvimento supra-segmental:

Breyene Moskowiitz integra na sua análise as unidades de um nível supra-segmental defendendo que “a descoberta da criança vai, de uma maneira sucessiva, para unidades fonológicas cada vez mais subtis” (Bouton, 1977, p.182). Neste sentido, a aquisição da fonologia iniciar-se-ia na etapa da lalação, uma vez que a criança descobre a forma melódica dos enunciados. Posteriormente a criança desenvolve uma unidade supra-segmental: a sílaba, sendo a estrutura das primeiras palavras CV, só depois apresentaram outras estruturas como CVC e VC. Na etapa seguinte já conseguirá proferir palavras com uma estrutura dissilábica, embora com repetição da estrutura CV (CV-CV). Só depois virá a análise segmental da própria sílaba variando-se a vogal e/ou a consoante.

  • Processos da linguagem infantil:
Só aos 4-5 anos é que o domínio do sistema fonológico estará concluído contudo, nalgumas crianças poderá ainda existirem algumas dificuldades em determinados fonemas até á altura da criança entrar na escola, como é o caso do /r/ na língua portuguesa.







Percurso de aquisição e desenvolvimento linguístico infantil: Pragmático

Pragmática é o campo da linguística que estuda a linguagem tendo em conta o seu uso na comunicação. A pragmática, ou o seu estudo, engloba não só o estudo da linguagem comum como também o uso concreto da linguagem. Pode dizer se então que a pragmática estuda os significados linguisticos determinados pela semântica proposicional ou frasica.


Dos 09/12meses aos 6 anos


A criança desenvolve desde muito cedo interações comunicativas com base no meio social em que se insere. Com efeito, por volta dos seus 9 meses de idade a criança transita para um período denominado ilocutionário pois é durante este período que inicia o uso de gestos e sons para comunicar.

Aos 2 anos de idade a criança já consegue manter um tema de conversa (apesar de curto), de 2 ou 3 turnos, no entanto, tende a mudar de tema com alguma frequência. Nesta fase conseguem ainda expressar conceitos imaginativos sobre sentimentos pessoais.


Com 3 /4 anos, a criança tem já as suas funções comunicativas mais evoluidas, conseguindo nesta fase fazer pedidos, protestos e diversas perguntas. A forma como falam em certas situação pode ser diferente, ou seja, ao dirigirem se a bebés ou crianças mais pequenas do que elas próprias falam de uma maneira diferente utilizando algumas vezes também um tom transformado. Para efetuarem pedidos, recorrem a formas indiretas como por exemplo “ eu gosto muito destes chocolates!”
Nesta idade a criança ainda não consegue fazer reformulações, ou seja, se lhe for pedido para explicar melhor o que disse a criança apenas repete a frase não introduzindo nada de novo de forma a clarificar a ideia.
A partir dos 4 - 5 anos começam a utilizar estruturas um pouco mais formais, isto é, em vez de dizerem “ eu vou brincar lá para fora” verbalizam da seguinte forma: “ eu gostava de ir brincar lá para fora”. Respondem a perguntas e a pedidos, descrevem situações, expressam factos, sentimentos e atitudes.
É aos 6 anos ( idade escolar) que a criança faz uso de estratégias diversas no intuito de clarificar o que não foi entendido pelo ouvinte. Nesta fase já consegue reformular frases de modo a fornecer mais informações. Esta é ainda uma fase em que surge as indiretas, ou seja, a criança recorre a formas indiretas de dizer o que pretende.

Alterações a nível Pragmático:
  • Dificuldade nas pressuposições - não dão toda informação de forma a percebermos o que nos querem transmitir;
  • Dificuldade na compreensão da globalidade de uma pergunta: atendem apenas a uma palavra ou outra e respondem com tópicos apenas vagamente relacionados;
  • Ecolalia: não perceberam o que lhes foi perguntado;
  • Dificuldade nas regras de conversação (chamar a atenção, tomar a vez,...);
  • Usam apenas as funções comunicativas mais básicas.


Se compararmos o estudo do desenvolvimento das habilidades pragmáticas ao estudo do desenvolvimento morfossintático, semântico e fonológico podemos dizer que o primeiro é mais recente em relação aos restantes. Uma das principais contribuições da perspectiva pragmática foi incluir, ao estudo da linguagem infantil, a comunicação pré-verbal, de modo a se iniciar o uso da linguagem (período pré linguístico) para interagir com as pessoas e se estabelecer as bases funcionais da comunicação.
A pragmática, (uso intencional da linguagem) surgiu  nos finais dos anos 70 com a chegada de uma perspectiva funcionalista sobre a linguagem que ia em sentido oposto à forte visão estruturalista daquela época.
Nos estudos sobre a linguagem infantil, as teorias pragmáticas concentram-se basicamente em dois aspectos: funções comunicativas e habilidades conversacionais.

Quanto ás funções comunicativas, consideram-se unidades abstratas que revelam o que o individuo pretende dizer através da fala. Está presente a motivação, metas e fins que se pretendem fazer chegar ao ouvinte.
As habilidades conversacionais estão ligadas à capacidade que cada pessoa tem em participar numa sequência interativa de atos de fala. Aqui prevalece o intercâmbio comunicativo.

Funções Comunicativas

No que respeita às funções comunicativas são vários os autores que analisaram o desenvolvimento da linguagem sob o ponto de vista funcional. No entanto, Halliday (1975),um dos autores estudiosos deste tema, numa prespetiva funcional, defende que no período pré-linguistico (9/ 18 meses), verificam-se seis tipos de funções comunicativas:

  • Função instrumental - a criança usa a linguagem para satisfazer suas necessidades materiais.
  • Função regulatória: quando a criança usa a linguagem para controlar o comportamento do outro.
  • Função interacional: quando a criança usa a linguagem para interagir com as pessoas.
  • Função pessoal: quando a criança usa a linguagem para expressar sentimentos pessoais em relação às pessoas ou ao ambiente.
  • Função heurística: quando a criança usa a linguagem como instrumento para explorar o ambiente na busca da identificação do nome dos objetos e ações.
  • Função imaginativa: quando a criança usa a linguagem de forma lúdica, criando ou recriando o ambiente segundo sua imaginação.

Ainda segundo o mesmo autor, existe uma sétima função que se verifica entre os 18 e 24 meses de idade de uma criança, a função informativa. Esta, é utilizada com a finalidade de transmitir uma informação.  

Hage, Simone et al. (2007) referem que segundo Bates et al. (1976) podem classificar se  as funções comunicativas em dois tipos, sendo elas protodeclarativas e protoimperativas. Os primeiros, seguem no sentido das atitudes das crianças se dirigirem à atenção do adulto para algum acontecimento, ou seja, a criança pretende chamar a atenção do adulto. Os protoimperativos estão relacionados com atitudes que têm como fim fazer o adulto participar ativamente na atividade “criada” pela criança. Um exemplo para esta ultima função comunicativa, é por exemplo quando uma criança olha várias vezes para um objeto que não consegue alcançar abrindo e fechando a mão e olhando de volta para o adulto.


Habilidades Conversacionais

As habilidades conversacionais estão relacionadas com a comunicação pré - verbal.  
Para haver habilidade para conversar, é necessário seguir uma sequencia de atos de fala que se ralacionem com dois ou mais interlocutores. Esta, implica ainda que a criança consiga dominar as regras para a conversação, nomeadamente, conhecer o seu papel de emissor e de ouvinte e preenchendo seus turnos apenas quando necessário.
Contudo, os estudos baseados nas habilidades conversacionais ficam muito áquem dos esztudos sobre as funções comunicativas. Este, tem sido bastante mais restrito, no entanto continuam a fazer se pesquisas neste sentido.


Bibliografia:
  • Barbeiro, L. (2000). Com a linguagem: do lado dos sons. Leiria: Legenda. (pp. 116 a 124)
  • HAGE, S. R. V.; RESEGUE, M. M.; VIVEIROS, D. C. S.; PACHECO, E. F. Análise do perfil das habilidades pragmáticas em crianças pequenas normais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 19, n. 1, p. 49-58, jan.-abr. 2007.
  • Lima, R. (2000). Linguagem Infantil: Da Normalidade a Patologia. Braga: Edições APPACOM (pp.71-102)

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